29 de jan. de 2013

Razão de viver

 Estou perdendo a razão de viver.
 Estou voltando a primeira desgraça, de onde todo o meu sofrimento, todos os males que habitam minha vida, vieram.
 Lá, onde habitam prostitutas, assassinos, servidores da bruxaria, demônios, caluniadores, mentirosos, tolos, zombadores, alienados, crianças retardadas, e fingidores. É para lá que estou indo.
 E já fui para lá uma vez, e uma vez prometeram-me que minha estadia lá pouco duraria, e desde então metade da minha vida se passou.
 Não sei se aguentarei aquilo de novo, não sei se aguentarei a mentira, a tentação, a transformação, a paixão, a enganação, a falsidade, a humilhação.
 Pois ali sou mais valioso que todos eles, sei que sou mais poderoso e forte que todos eles, mas sou obrigado a fingir que sou o pior deles.
 Eu deveria merecer mais, merecer algo ou alguém que reconhecesse do que sou capaz, mas não posso, não consigo fazer com que vejam.
 Tudo o que desejo é alguém que me dê mais, pois estou sedento e preciso ser saciado pelo conhecimento. Não peço muito, tudo que peço é que me preencha com o saber, mas tudo o que ganho é falsos historiadores e uma sociedade que me vê como escória.
 E é por isso que estou perdendo a razão de viver, pois algumas vezes o sofrimento da morte é um preço justo a pagar comparado ao sofrimento da vida.

10 de jan. de 2013

Oração ao Cadáver Desconhecido, por Karl Rokitansky

Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente.

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