25 de jun. de 2014

Um Sonho de Inverno

   Eu tive um sonho estranho hoje.

   Eu estava voando pelo Espaço, como um super-herói, e numa velocidade inimaginável. Eu poderia ir aonde eu quisesse, e eu vi tudo.
   A formação dos planetas, o nascimento das estrelas em seus berçários nebulosas, suas mortes em supernovas, cometas voando, asteroides pairando, estrelas queimando e eclodindo. Eu vi toda a magnificência do Universo.

   E, de repente, estou de volta à terra. Depois de presenciar todo o poder do próprio Caos, volto à calma e serenidade do meu lar, deste planeta azul. Estou no anoitecer, na beira de um lado, e à minha volta vejo incontáveis pequenas pedras cinzas. E, à minha frente, uma pequena e pálida flor de lírio, completamente sozinha. Uma coisa viva nascendo de uma coisa morta. Pego esta flor, aproximo-a do meu rosto e a cheiro, e, olhando para o céu, vejo os infinitos mundos brilhantes e flamejantes que acabara de contemplar. Daqui, do meu lar, tais mundos pareciam ainda mais majestosos.
   Logo, uma mulher se aproxima e me abraça, e de alguma forma, sei que aquela é a minha mulher. Eu a beijo. Então devolvo aquele lírio ao lugar que pertence, para que encontre seu lar naquele infindável mundo cinzento no qual nascera. E, pegando a mão de minha mulher, caminho com ela até uma casa de madeira, a minha casa.
   Dentro desta casa encontro um garoto, o meu filho. Eu o pego nos braços e o abraço. Nós jantamos, rimos, conversamos. Após, eu e meu filho brincamos, e quando ele está cansado, eu leio a ele um magnífico livro da minha infância. Quando chega a hora, o coloco para dormir, e então me vejo novamente, através da janela, encarando todos aqueles olhos brilhantes olhando para mim, e me pergunto quantas criaturas estão a encarar-me de volta.
   Ao voltar para a sala, encontro com minha mulher. Eu a volto em meus braços, e com todas as forças que possuo, toco em seus lábios, desejando dali nunca mais me encontrar.

   De repente, os anos se passam. Agora, estou no último suspiro da minha vida. Deitada ao meu lado, numa cama, está a mesma mulher que, há segundos atrás, eu beijara tão jovem. Agora sua beleza deixou-a, e não encontro mais aquela serenidade em seus olhos. Agora sua pele não é agradável de se tocar. E, ainda assim, eu a toco, pois aquela foi a mulher a qual eu amara, e ainda amo.
   E, ao meu lado, está meu filho, e embora todas as aparências digam o contrário, ao meu olhar ele ainda aparentar ser o garoto de outrora. Ele se despede de mim e eu me despeço dele. Agora, tudo que resta é a mulher que está ao meu lado. Não há despedidas. Não há palavras. Apenas o olhar que nos trespassara, e o amor que nos envolve.

   Logo já não estou nesse mundo. Este mundo, este Universo, todo seu esplendor, a mim agora parece um leve sonho, como se toda minha vida fosse um instante, um suspiro. Agora estou repleto de algo muito maior, a qual em minha vida mortal eu pudesse sequer compreender. Todas as minhas ansiedades e desejos agora se parecem pequenos. Eu sou a paz. Eu sou o amor. Eu sou a luz. Faz parte de mim.

   E então eu acordei.

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