21 de jul. de 2013

A Batalha Individual

   Meus olhos enfim se desencerram depois de um sono profundo, um desfalecimento físico.

   Primeiro, ponho-me a pensar; a reconnhecer a minha existência como ser. Aos poucos, vem-me as memórias, me recordo quem sou.
   Depois, o reconhecimento físico: agora já distinguo quem sou e onde estou. Finalmente ponho-me a refletir.

   "É manhã", penso eu. Logo, terei de estar numa fábrica, vestido adequadamente, pondo-me a trabalhar.

   Será?

   Ponho-me a refletir sobre o mundo que me cerca. Porque deveria me importar? Que diferença iria fazer? Deveria eu levantar?

   Mas o questionamento logo se esvai, já não havendo escolha. Deve ser feito.

   Agora, não mais hesitando, corpo e alma mais forte ficam, e a cada músculo mexido, me sinto mais forte. Enfim, fui superado.

   Embora batalha vencida esteja, ponho-me novamente a pensar. Deveria seguir adiante? Deveria confiar alma e espírito meu à mera sorte? Pois ora, quem diria que o sonho é prevalecedor, afinal.

   Mas logo a loucura novamente de mim toma conta, e todas as respostas, as quais uma vez eu chegara tão perto, agora porém pareciam mero sonho, perdidas subitamente no encantamento esquecido.

   Logo já não há razão, e ponho-me a levantar. Dou os primeiros passos. Pergunto-me por qual razão faço isso, um mistério que há muito empenho em resolver, embora razão tão misteriosa seja.

   Quanto tempo aqui passou, me parece improvável dizer. Pouco ou muito, tudo que posso saber é que o tempo passara, mas segundos ou séculos, que mínima criatura filha do Criador se atreveria a afirmar?

   A esse ponto, no entanto, o sonho já se desvanecia. Minha antiga vida agora parecia mera vida vivida em outro tempo, outra época, outro lugar. Uma vida vivida em outra vida.

   Pois é impossível para um homem viver neste mundo sem abraçar a ignorância, o fingimento e a falsidade. Pois todo homem deve fazer uma escolha, uma escolha que determina quem você é, e separa as pessoas entre as comuns e as especiais. Infelizmente, eu fizera a escolha errada.

   E que opção teria eu agora? Pois quando homem abraça a ignorância por tempo demais, logo a realidade se torna mera fantasia.

   E aqui termina meu lamento, o lamento de alguém que indubitavelmente espera pela morte, e nada mais.

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