10 de jul. de 2013

A Ilusão

   E ele acorda em sua cama, no meio da madrugada, e de súbito seus pensamentos levam ao nada. "Está escuro", pensa ele, "assim como eu estou". Nada vê, nada pensa, nada faz. Seu maior feito ali era ser engolido pela escuridão, se tornando parte dela, e formando parte de algo maior, o único maior em que poderia fazer parte.

   Logo se levanta na escuridão, acende uma luz e vê o que há em volta: bagunças espalhadas, lixos, aparelhos eletrônicos, roupas, livros, e tudo aquilo que lhe dava algum prazer. Qualquer um que entrasse ali acharia o local o próprio inferno, manifestação voluntária do caos que há no não-prazer. Mas não pare ele. Para ele aquele lugar representava seu paraíso, seu único refúgio em terra, o único lugar que era compreendido. Ali, na escuridão, naquele lugar, seus olhos refletiam sua própria alma: Bagunçada, imunda e com pequenas pitadas do prazer emocional.

   Assim como homem mortal que é ele se dirige a outro lugar, onde encontra apetrechos que pode carregar dentro de seu ser, e que lhe dariam vida. Dentro daquela imensa caixa branca, talvez a única parte limpa do lugar, ele podia encontrar outra pitada de prazer.

   Como ser que já não tem esperanças por viver, onde sua única e mera razão por existir é esperar à morte, ele se senta em volta daquela grande caixa preta com vidro, acende suas luzes, e logo ele mergulha em um outro mundo que já não é o nosso, um mundo onde tudo é novo e inesperado, onde podes tudo e não pode nada: Ali, dentro daquela caixa, ele encontraria o que procura, afogando-se em sua falsa ilusão de realidade, suas fantasias ali seriam cumpridas, e novamente, dentro daquele lugar imundo, ele encontraria um prazer que nunca imaginara.

   Minutos, horas, dias, talvez anos se passaram, ele já não poderia dizer. Aquela caixa preta sugara sua mente, sua alma, fazendo-o esquecer de si mesmo, apenas importando-se com o que havia dentro da caixa. "Se este é o único prazer que posso ter", pensou, "é aqui que quero viver. Sempre"

   Mas ali dentro, nunca poderia encontrar a felicidade verdadeira. Apenas uma ilusão lhe fora apresentada, uma ilusão de felicidade e prazer, de conquista e de vitória. Pelos poucos segundos em que pode voltar à realidade, percebeu o quão fútil sua vida era. Desprezível, na verdade. Mas como pobre ser mortal que era, não imaginaria o poder que lhe haviam concebido: O prazer da felicidade real, aquela que não conhecia.

   Porém era homem condenado: Tal felicidade nunca poderia encontrar. Pois quando se percebe que a verdadeira felicidade está longe, é preferível afogar-se em sua própria felicidade, é preferível uma pequena e estranha alegria do que percorrer um árduo e doloroso caminho de paz, caminho que leva à felicidade plena e eterna.

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